O Anjinho: que de anjo não tem nada

exposed 1 de Jan de 2023

Caros brasileiros,

Durante 4 anos Damares Alves ocupou o cargo de ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. Mesmo com ações marcadas por negligência, exposição de menores e ataques aos direitos que ela dizia proteger, Damares foi responsável por criar e garantir políticas de prevenção a vida desses setores. Felizmente, tal ministério não existe mais, só que isso não quer dizer que o estrago das suas falas e opiniões, baseadas na fé distorcida, esteja resolvido.

Começamos o ano de 2023 com a cena lamentável e desprezível de uma pai agredindo suas filhas em uma praia na Bahia. Não existe motivo algum que torne razoável ou compreensível tal espancamento e agressão que vemos no vídeo. Também não existe explicação para a negligência daqueles que vêem a situação e escolhem filmar ou ignorar. A realidade brasileira vem mostrando o quanto o sistema oprime as diversidades, os menos favorecidos e os marginalizados. Realidade essa, que normaliza e diminui a responsabilidade de abusos e violências que muitas crianças enfrentam sem nem entender o que se passa. Infelizmente, mais uma vez se faz necessário estarmos aqui para expor o que é inadmissível: a opressão.

O vídeo é claro e nítido ao mostrar o covarde Angelo Manoel Miranda Pereira, inscrito no CPF 060.105.315–00, nascido em 10/03/1994, espancando suas filhas pequenas. Primeiro as agressões são com o chinelo, ao final, arremessa uma de suas filhas no chão. Tal atitude poderia acarretar lesões físicas mais graves, além das cicatrizes psicológicas que as crianças podem enfrentar ao viver tais agressões. Ao avistarmos casos assim, não devemos ser omissos, pois assim, também nos tornaremos agressores pela negligência.

Supostamente, a razão da agressão viria do fato das crianças terem se perdido na praia. Ao resgatar suas filhas, ao invés de acolher, Anjinho resolveu que o certo seria agredir as crianças, afinal a culpa do sumiço seria delas. São tantos erros nessa atitude que fica até difícil escolher por onde começar. Imaginem duas crianças perdidas em uma praia lotada, imaginem o desespero delas de não conseguir encontrar seu porto seguro, imaginem o medo que elas sentiram de não saber o que fazer ou para onde ir.

Finalmente, encontram a tal "família", alegria, luz no fim do túnel. Mas, seu "pai" escolhe recebê-las com chineladas e até um soco. Nisso, alimentando o sentimento de culpa e responsabilidade que não são delas. Crianças estão em fase de desenvolvimento, desconhecem o mundo e os perigos que ele carrega. Cabe aos pais a proteção desses indivíduos. Quando reagirmos com violência a uma atitude "errada" de uma criança, utilizamos do método da opressão quando deveríamos educar através das palavras e do acolhimento. O indivíduo que sofre violências e abusos na infância, podem desenvolver medos e culpas que, em muitos casos, levam uma vida inteira para curar.

Outro ponto que grita nas imagens divulgadas no Twitter, é a negligência daqueles ao redor. Lamentavelmente, ainda vivemos numa sociedade retrógrada, onde pessoas filmam o ato, comentam, no entanto, ninguém intervêm, nem mesmo chama a polícia. Seria o famoso “em briga de… {} ninguém mete a colher”? Mas aí é que está a questão, sim, mete-se a colher em ambos os casos.

Ao longo da história, a definição de criança foi se moldando a partir de diferentes perspectivas vigentes à sua época. Inicialmente, na antiguidade, a criança era vista como um ser totalmente dependente, incapaz e assumia o papel que a família lhe instituía. Na idade média, ela é considerada um “mini adulto”, sendo o único aspecto que diferencial do adulto, era o seu tamanho. É na modernidade, que ela passa ser entendida como um ser individual, surgindo uma preocupação com gênero, posturas, educação e sexualidade. Ao chegar na atualidade, é que se estabeleceu os direitos da criança e do adolescente, além do conceito de infância. Até então, as crianças não tinham valor algum, espancamentos, maus tratos, abuso sexual e outros aspectos, eram vistos como naturais.

Quando pensamos em maus tratos, negligência, abusos e outros tipos de violência contra a criança, também precisamos pensar sobre seu impacto no desenvolvimento cognitivo e emocional. Embora não determinante, ou seja, nem sempre se desenvolverá, inúmeros transtornos mentais estão relacionados a problemas ocorridos na infância. Por outro lado, estão diretamente implicados na formação da personalidade e inteligência emocional da criança e posteriormente do adulto.

Crianças vitimas de violência doméstica podem reproduzir a violência vivenciada em casa, na escola ou com outras crianças de seu círculo social. Outras podem assumir uma postura mais introspectiva, marcada pelo medo, insegurança, inferioridade e isolamento social. De todo modo, um adulto saudável está relacionado a um desenvolvimento infantil saudável.

Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2021, o Brasil registrou quase 20 mil casos de violência contra crianças e adolescentes. Esse número representa um aumento de 21% em relação a 2020. Ainda utilizando dados do Anuário, o pico do crime de agressão contra infantes, está entre as crianças de até 6 anos. Além disso, 62% dos crimes são realizados em infantes de 0 a 9 anos de idade.

Escrevemos esse artigo com a consciência de que muitos leitores têm o pensamento retrógrado de que agressão é uma forma de educar, de que “eu apanhei quando era criança e estou vivo”, entre outros absurdos. O frustrante é que, a “medida corretiva”, no caso em questão, obviamente ultrapassa todos os limites. E ainda assim, existem pessoas nos comentários do vídeo dizendo que um "homem" como esse está correto.

Criança não é propriedade. Muitos dos casos de abuso e de violência contra crianças, vêm dessa visão de dominância, na qual, sendo nosso filho, podemos fazer o que quisermos. A grande maioria dos casos dos pais que incitam esse absurdo, dão violência, mas não amor. Criança deve ser criança. Deve receber carinho, afeto, amor, conselhos, atenção e educação. A criança sabe de sua fragilidade, e tem em seus pais, ou parentes mais próximos, seu porto seguro. Quando esse porto seguro é quebrado, por agressões, ela fica sem amparo, vivendo em constante medo.

Não sejamos omissos ao vermos agressões contra nossas crianças. Somos todos responsáveis pela vida e por sua proteção da mesma. Independente do contexto, esses seres puros, frágeis, inocentes, que enchem nossa vida de amor, alegria e diversão, merecem e precisam ser protegidos. São eles o futuro da nação. São eles que cuidarão daquilo que deixamos. São eles que viverão aquilo que criamos para essa sociedade. Quando nos omitimos ou naturalizamos a violência infantil, não só nos igualamos à Angelo, como também afetamos o futuro da nossa sociedade como um todo. A vida é principio, meio e fim, sejamos conscientes da nossa responsabilidade social. Que esse exposed sirva de exemplo para os ignorantes que ainda acham que a violência educa. Vocês não só estão errados, como também são a razão de tantas dores sociais que ainda não superamos. Mas nós estamos aqui para lembrar a vocês das suas obrigações como seres humanos.

Viva a infância, a sua pureza e a sua preservação!

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