CARTÃO SEM SIGILO: A FARRA DO CARTÃO CORPORATIVO DESVELADA

Operações 24 de Abr de 2023

Saudaçãoes brasileiros, saudações Jair,

Não, Jair. Como era de se esperar para quem consegue juntar dois e dois, não precisamos esperar cem anos para ter acesso aos dados das compras que você realizou no projeto de terra arrasada que foi o seu mandato. Não que precisássemos de muita ajuda para saber que havia algo de podre no reino das Vivendas da Barra. Você aprendeu bem a como esconder o dinheiro que lava em diversos esquemas de corrupção ao longo de anos, e na presidência não seria diferente. Aqui vamos mostrar para população que você enganou como era gasto o dinheiro público em enormes esquemas ilegais.

Além dos dados das compras, agora disponíveis no Portal da Transparência, temos análises cruzadas com notas fiscais reaproveitadas, compras totalmente descabíveis, e para colocar uma cereja no topo deste bolo fecal, saques em espécie de valores exorbitantes - cuja finalidade é impossível rastrear. Mas nós, que estamos em todo lugar, podemos e vamos exibir todos os podres desse ex-governante que assombrou o Brasil por mais de 34 anos com uma política baseada na corrupção e em assassinatos velados!

Isso tudo vindo de um ser como você, que fez de uma plataforma supostamente anticorrupção, surfando nos conluios lavajatistas e no sentimento antipetista da população. Você, Bolsonaro, que se coloca como o arauto de uma nova era, de um Brasil sem corrupção, conseguiu gastar quatro milhões e meio de reais em dezesseis viagens realizadas em seus 66 dias de folga em feriados e recessos. Por mês, em média, meio milhão de reais foram gastos, apenas do cartão corporativo, para hospedagem e alimentação. Enquanto isso, você negligenciava o povo e negava que estivessem voltando para o mapa da fome, fazendo com que disputassem sobras de carnes e até mesmo ossos.

Com os dados disponibilizados via lei de acesso à informação, analisamos alguns padrões e particularidades que demonstraremos a seguir, incluindo gastos por ano, por servidor e por tipo de empresa, e também gastos e empresas suspeitas.

É hora de mergulharmos na farra bolsonarista.

GASTOS TOTAIS POR ANO

O valor divulgado até o momento sobre os gastos do cartão corporativo da presidência foi de R$ 27.621.657,23. A maioria dos dados disponibilizados mostra que houve gasto em comércios, hotéis, viagens, comida, entre outros. O curioso é que esses gastos possuem valores idênticos por vários meses seguidos, no mesmo local, no mesmo produto ou serviço. Além disso, houve bastante movimentação de dinheiro em espécie sacado direto da boca do caixa por ajudantes, servidores e funcionários do ex-presidente.

Gastos por ano durante a gestão de Bolsonaro

Somando o valor de todos esses anos e fazendo uma média MENSAL de gastos, o valor é de aproximadamente R$ 575.000,00 (quinhentos e setenta e cinco mil), sendo que a maioria desse valor, 87%, foi para hospedagem e alimentação. Enquanto isso, inúmeras famílias eram obrigadas a sobreviver com uma renda abaixo da linha da pobreza, em condições precárias e mal conseguindo se alimentar.

GASTOS TOTAIS POR SERVIDOR

Abaixo é possível verificar os 22 ajudantes de ordens e servidores que tiveram acesso ao cartão corporativo entre 2019 e 2022. Observe que mais de 50% do uso do cartão está concentrado em 4 servidores.

Os primeiros 4 servidores chamam atenção por terem sido os que mais gastaram usando o cartão corporativo e, junto deles, outros 18, sendo que nenhum teve seu CPF ou nome revelado. Por que será? O portal da transparência não deveria ser transparente com a população sobre os gastos públicos?

Somente o primeiro da lista concentra 15,52% dos gastos em 753 operações, somando mais de 4 milhões de reais. Acompanhando a tabela é possível ver os demais valores e o número enorme de vezes que CADA servidor usou o cartão, como o caso do CPF parcial 135.521 que fez mais de 3.700 operações. O lema da propanganda eleitoral de Bolsonaro quando estava concorrendo à presidência era de que a mamata iria acabar. E agora? Qual a desculpa para todos esses gastos e todas essas pessoas acessando o cartão? E esse é só o começo de tudo que foi gasto.

Para a demonstração das irregularidades do uso do cartão corporativo focaremos aqui no CPF que mais gastou, onde gastou e os valores gastos. Observe abaixo:

As despesas deste CPF seguem o padrão de gastos em hospedagem e alimentação.

SERVIDORES E QUANTIDADE DE USOS

Outro fator que chama atenção é que, ao comparar a quantia gasta por cada um dos servidores com o número de vezes que o cartão foi usado, há uma grande discrepância. O CPF que mais usou o cartão não foi o que mais gastou, e o que mais gastou usou bem menos o cartão do que outros. Por que será? Será que somente alguns daquela lista estão autorizados a ultrapassar um aparente limite de valores?

Para ficar mais evidente, fizemos o cruzamento entre uso e gasto, sendo que a tabela da esquerda está organizada a partir do valor gasto e a da direita, a partir da quantidade de usos. Em amarelo destacamos os que mais gastaram e os que mais usaram, analisem:

Nota-se outra curiosidade: em laranja, na primeira tabela, o CPF parcial 674.221 não foi o valor mais alto gasto em total, mas foi o que mais gastou por uso! No caso, daria um valor médio de R$ 6.366,75 a cada vez, enquanto o CPF 784.930, que gastou mais de quatro milhões em 753 vezes, tem o valor médio aproximado de R$ 5.600,00 por uso.

Na segunda tabela chama atenção em laranja o CPF 499.347, que foi o quarto colocado em número de usos mas foi um dos que menos gastou comparado com os primeiros colocados. Qual o motivo? Quem são? Por que uns gastam tanto, outros usam tanto, e alguns parecem ser limitados ao acesso do cartão?

MAIORES USOS DO CARTÃO

Abaixo vamos conferir detalhadamente os gastos por mês e ano do cartão corporativo do Bolsonaro.

É possível observar em amarelo os meses com os maiores gastos pelo cartão, sendo 2021 o ano de maior uso desenfreado, principalmente no fim do ano. Há um aumento do gasto no cartão sempre que se proximava os eventos em que ele participava como é o caso das motociatas.

Em dezembro de 2021, enquanto a Bahia sofria com as enchentes e já contava com 21 mortos, Bolsonaro zombava da população com suas “férias” e seu passeio de jetski em Santa Catarina. Nesse mês ele gastou o pequeno total de R$ 1.284.814,89.

No caso da ponte inaugurada em São Gabriel da Cachoeira no Amazonas, em 2021, o destaque vai para o fato de que o total dos valores com hospedagens, transporte, equipe, alimentação e segurança, incrivelmente, supera o valor gasto para fazer a própria ponte! A obra em si custou R$ 255 mil, enquanto todo passeio de inauguração de Bolsonaro e sua equipe saiu pelo valor de R$ 711 mil, quase o suficiente para a construção de 3 pontes.

GASTOS POR TIPO DE DESPESA

Cerca de 87% de todos os gastos com o cartão corporativo no período de 2019 a 2022 foram com hospedagem e alimentação. Como é possível, em datas diferentes e produtos diferentes, as coisas custarem exatos mesmos valores? Acharam que seria possível mascarar o gasto indevido apenas trocando o nome do que foi comprado? Mais uma vez fica evidente que Bolsonaro e seus companheiros não são muito inteligentes.

Como justificar que o mesmo valor apareça em uma diária de hotel e em consumo de alimentos e bebidas? O mesmo valor por 3 anos seguidos, em diferentes épocas e diferentes locais. O que esses locais, fornecedores e pessoas tinham em comum para sempre fazerem vendas com o mesmo valor, ainda que em “produtos” e dias diferentes?

Não são situações que se repetem uma ou duas vezes, há casos que acontecem dezenas vezes, como o dos peixeiros da Peixaria Guará, que conseguiam a proeza de repetir o mesmo valor do produto (provavelmente em quilogramas) em épocas distintas. Somente nessa peixaria o cartão foi utilizado 28 vezes.

Qual será o lanche comprado na lanchonete Tony e Thais, já que o valor gasto neste local foi o mesmo que no hotel LH Barra Rio, de R$ 1.740. Diversas vezes o mesmo preço pago em hotéis se repete nessa lanchonete. Qual será a relação entre eles? O que sabemos é que o que eles têm em comum é pagamentos feitos no cartão corporativo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

GASTOS SUSPEITOS

Com base nessas suspeitas, fizemos várias análises nesses dados e encontramos um padrão que nos remete ao reaproveitamento de notas fiscais de um fornecedor para outro, visto que o mesmo valor especifico aparece em outros fornecedores com diferença de meses e as vezes até anos.

Como pode um mesmo valor especifico, incluindo até mesmo centavos, ser gasto em fornecedores diferentes e em datas distintas? Fica evidente que um dos padrões dos gastos do cartão corporativo é fazer a mesma despesa para hospedagem e com alimentação. Ora, se o valor de uma diária é de R$ 1.000,00, por exemplo, como se gasta o mesmo valor em alimentação? Vejamos algumas dessas “coincidências” e do claro padrão de reaproveitamento de notas fiscais de um fornecedor para outro:

Os mesmos valores gastos com passagem aérea, coincidem com gastos em churrascarias, hotéis, pizzarias e super mercados?

Na Peixaria Guará os açougueiros são extremamente precisos, conseguem fracionar os peixes com uma precisão de centavos, incrível essa habilidade, mesmo de um ano para outros, eles conseguem lembrar o peso exato e fornecer a mesma quantidade com precisão de gramas?

O que vende na Lanchonete Tony e Thais que possui o mesmo valor de uma hospedagem no hotel LH Barra Rio? A Lanchonete Tony e Thais foram os verdadeiros parceiros do governo Bolsonaro, vendem lanches no mesmo valor das hospedagens em hotéis e com mesmo valor das movimentações aéreas. Mesmo serviço, mesma empresa, mas anos diferentes, não houve sucessivos aumentos que encareceu os custos e os valores dos serviços?

Dessa vez complicou, 9 valores iguais? Como assim? Que tanto lanche foi esse? Tony e Thais o que podem dizer sobre isso? Quantos cheeseburgers dá pra comprar com esse tanto de dinheiro público? Sem falar que no dia 15/04/2022 o cartão foi passado 6 (seis) vezes com o valor de R$ 9.500,00 (nove mil e quinhentos reais) totalizando R$ 57.000,00 (cinquenta e sete mil reais) num único dia, que tanto lanche foi esse? Como uma empresa que tem capital social de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) fatura mais do que o capital social num único dia?

Em nossa análise, demonstramos diversos gastos no qual fica cade vez mais explícita a pratica de aproveitamento de notas fiscais de um fornecedor para outro. Uma das provas é a mesma despesa, incluindo os centavos, de fornecedores distintos e em momentos diferentes, muitos deles até de um ano para outro. Acesse a análise completa ao final da matéria.

EMPRESAS SUSPEITAS

Essas empresas, embora não tenham recebido os maiores valores no período analisado (2019 a 2022), foram as que apresentaram gastos com o mesmo valor casado com outros fornecedores, sempre apresentando a mesma despesa de um valor gasto com hospedagem. Apresentaram também valores repetidos, inclusive centavos, com diferença de meses e até mesmo anos. Uma delas a Lanchonete Tony e Thais, num único dia, passaram 9 vezes o valor de R$ 9.500,00 (nove mil e quinhentos reais). Outras chamam atenção por passarem o cartão várias corporativo várias vezes no mesmo dia e com o mesmo valor, caso da Peixaria Mary Mar.

O Mercadinho La Palma LTDA mesmo sem capital social registrado na Receita Federal, vendeu R$ 678.932,22 no cartão corporativo. A Lanchonete Tony & Thais LTDA mesmo possuindo capital social de R$ 50.000,00 faturou num único dia R$ 57.000,00

A Ueda Pescado 408 Sul LTDA é demonstrada nos gastos com o cartão corporativo como PEIXARIA GUARA LTDA. A International Meal Company Alimentacao S.A. é demonstrada nos gastos com o cartão corporativo como RA CATERING LTDA - THE COLLECTION-CUMBICA SP.

Conclusão

Nessa breve análise que apresentamos foi possível detectar movimentações no cartão corporativo que apontam para irregularidades e uso para fins indevidos, como os que envolvem benefício próprio, além dos valores exorbitantes que indignam por si só. Tudo nos leva a crer que a situação seja ainda pior do que parece, já que o que trouxemos é um pequeno recorte perto de todos os gastos apresentados pelos dados do Portal da Transparência e, se forem feitas novas investigações, mais coisa errada deve aparecer.

Os abusos cometidos por políticos que tentam vender uma imagem de serem contra a corrupção para depois se enfiarem em escândalo atrás de escândalo servem para aprendermos uma lição. Enquanto houver poder para apenas uma parcela da população, podemos estar certos de que haverá abuso desse poder.

Aqueles que lutam contra a corrupção se mostram corruptos. Os que defendem os interesses dos mais pobres são obrigados a trabalhar em favor dos milionários para conquistarem migalhas. O sistema é projetado para garantir privilégios e a farra, tomados do bolso do trabalhador, que permanece vazio apesar do suor e sangue derramados.

Constatar este tipo de abuso é revoltante, mas devemos nos revoltar principalmente com a raiz do problema: uma classe política mantida no poder por uma elite econômica. Se Bolsonaro teve acesso a todos esses recursos - tirados dos nossos mais pobres - foi por engordar os bolsos de quem financiou sua campanha. Não existe corrupção sem participação do setor privado no Brasil.

A luta pelo fim desse sistema de exploração, genocídio e escravidão deve ser nosso objetivo. Mas não nos esqueçamos de exigir que não haja anistia ou impunidade para os traidores que se banquetearam com o sofrimento do trabalhador.

E é somente juntos que poderemos alcançar esses objetivos.

Eles têm o dinheiro, mas nós temos os números.

Guerra aos senhores.

Análise:

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