O HackerAtivismo

Notícias 20 de Jun de 2021 ES EN

Esse texto aborda o conceito hacker ativista em meio o cenário político atual, antes de tudo é necessário entender qual a origem do conceito hacker, do ativismo e como surgiu sua ligação. O conceito de hacker, muito abordado nos dias atuais, tem sua origem entre o fim da década de 1950 e o início da década de 1960. Desde o princípio teve como base questões políticas, que foram importantes nas décadas que sucederam. Os primeiros princípios seguidos na formação do que chamamos de hacker foram a luta pelo acesso ilimitado e total aos computadores e a rede mundial de computadores (todas as informações deveriam ser livres) e que toda ordem e poder emanado de autoridades deveriam ser combatidos – além do famoso princípio: “veja tudo, aprenda tudo e não toque em nada“.    

A grande ferramenta de luta de um hacker é seu computador. Para um hacker com conhecimentos específicos, é possível realizar grandes feitos e mudar realidades. Para um hacker, o computador faz parte de sua vida e seu nível não é julgado com base no seu grau de escolaridade, idade, raça ou posição social, pois você pode mudar e criar arte, beleza e vida em um computador. A internet é sua realidade, seu lugar de escape que muitas vezes não faz jus à sua realidade. O meio digital permite às pessoas serem heróis ou vilões; não importa quem são e sim seus atos. Uma das grandes bandeiras defendida pelos hackers é o livre acesso à informação. Tudo que nos é fornecido, seja conhecimento ou informação, deve ser repassado como tal, sem alteração e sem pensar nas consequências, pois não cabe a nós o que a pessoa fará com esse conhecimento.    

Enquanto as primeiras gerações de hackers estavam centradas apenas em questões políticas de seu tempo, com o avanço da tecnologia surgiram novas plataformas de comunicação e vimos surgir o que chamamos de globalização. Agora as informações são passadas de forma rápida e as fronteiras foram rompidas. Hoje nossa comunicação está para além do mundo físico, quase tudo que fazemos está conectado a uma realidade virtual. Com isso a cultura hacker também sofreu mudanças. Agora com a informação mais acessível, tanto de empresas como governos, o hacker que antes atuava com seus princípios básicos se une a causas sociais. A partir de 1998 vemos o surgimento e o apoio de grupos hackers em relação ao ativismo social. Nesse momento os antigos hackers transpuseram mais claramente seu caráter político no âmbito social, realizando ações diretas de desobediência civil, desestabilizando sistemas governamentais e financeiros a fim de chamar a atenção da sociedade de modo geral.

Assim, o ativismo hacker pode ser definido como o uso de ferramentas digitais tendo em vista fins sociais e políticos. Contudo, muitas vezes são abordados pela mídia como vilões, crackers e bankers enquanto que para o cidadão que não possui entendimento um hacker se resume a todas as técnicas e não possui ética. De forma mais ampla, trata-se da junção de ferramentas e conhecimentos técnicos específicos que juntos, e de uma forma especial, geram um ativismo político que é realizado virtualmente, mas que possui desdobramentos sociais, seja através da mobilização nas redes sociais, meios de comunicação virtuais e mesmo mobilizações de rua. Com a popularização da Internet e o aumento do comércio eletrônico global, governos de diversas partes do mundo começaram a criar leis para barrar ações de hackers e também conter suas manifestações de forma mais expressiva. No ano 2000, as atividades hacker ativistas diminuiram.

Em 2001, com a chegada do grupo hacker ativista conhecido como “Anonymous“, pregando um ideal anarquista a fim de trazer o direto dos cidadãos à tona e o fim da doutrinação capitalista, as coisas mudam e a história do hacker ativismo que ganha um novo capítulo. Desde então, o hacker ativismo não apenas começa a renascer, mas o faz emergir do que chamamos de espaço underground e cria-se grande atenção em volta do propósito e das ações que estavam sendo abordadas. Agora não se tratava mais de um hacker isolado, mas um coletivo com os mesmos objetivos e ideais juntando forças para trazer resultados expressivos à sociedade. Isso colocou mais do que nunca, os governos e as corporações como alvo principal. O Hacker que se identifica com a ideia passa a fazer uso da máscara que imita o rosto de Guy Fawkes, como homenagem à sua história.

A máscara faz referência ao protagonista da série de romances gráficos “V de Vingança”, de Alan Moore, adaptada para o cinema em 2006. Com isso, centenas de grupos hacker ativistas e pessoas em todo o mundo passaram a sentirem-se livres para realizar diversas ações, esforçando-se para chamar a atenção do público, através da imprensa desafiando as facetas do controle mundial. Vale ressaltar, sobre a Anonymous, que não é um grupo. Tampouco possui dono, líder central ou país representante. É uma ideia que pode ser seguida por qualquer um, sem distinção. Para aderir não é preciso pedir permissão ou passar por qualquer tipo de processo seletivo, basta compreender os objetivos do ideal e passar a seguir seus princípios. Também é importante dizer que a anonymous é uma ideia ampla, composta por várias ideias e está sempre em evolução, em transformação e adaptação.

Não há cartilhas, centros, grupos, pessoas ou qualquer outra coisa que possa falar como porta-voz da Anonymous. Suas ações são construídas por todos e para todos, o que se reforça pela característica fundamental de seus feitos: sempre em total anonimato, onde ninguém é superior a ninguém, sendo todos iguais. Todos podem falar por si, mas ninguém pode falar por todos. O caráter do anonimato é um princípio fundamental em qualquer cultura hacker, onde um hacker, uma ação, ou uma ideia devem ser valorizados por aquilo que são e seu resultado, e não pelo gênero ou por quem fez. Isso se mostra evidente em diversos grupos que possuem o âmbito social, desde o 4chan, até as discussões abertas nos canais do IRC, com intenção de propor e avaliar operações, ou simplesmente refletir sobre conceitos políticos e sociais.

Ocultar a identidade é algo fundamental para proteger o hacker evitando sua descoberta e mantendo o conceito de coletivo vivo afim de não surgir um representante, mesmo que involuntariamente, a partir da sua repercussão midiática. Como foi possível observar, a questão hacker e o ativismo possuem suas particularidades de ação. Porém, quando se unem, é possível obter grandes resultados em relação à ação social. Algo que também devemos considerar é o caráter ativista, que pode ser entendido como militância ou ação continuada com objetivo de transformação social, ou política, privilegiando a ação direta, através de meios pacíficos ou violentos, que incluem tanto a defesa, propagação e manifestação pública de ideias e direitos sociais. O termo ativismo e ativista foram usados pela primeira vez, como conotações políticas, pela empresa belga em 1916. Desde então teve grande evolução em suas bases de luta, diversificando seus métodos de abordagem em meio às massas.

O ativismo em si é a forma do cidadão expressar sua insatisfação quanto a um centro de poder que cria regras que oprimem a sociedade. Centros de poder podem ser o estado por a força da lei, corporações e centros financeiros por força de pressão econômica ou outros. Cabe ao cidadão lutar contra esses centros de poder, a fim de garantir que sua voz seja ouvida e que seus direitos sejam reconhecidos. Também há outro método de luta que devemos considerar: o ciberativismo. Muito utilizado em nosso período contemporâneo, se fixa em grande parte ao meio virtual ou digital a fim de garantir a atenção dos internautas para questões sociais e humanas. No ciberativismo se usa recursos como vídeos, imagens, campanhas e textos, criando uma base de conscientização em escala global, já que a internet hoje é um dos maiores meios de comunicação no mundo, sendo uma ferramenta muito importante para o trabalho ativista.    

Podemos também notar um crescimento enorme dos resultados vindos de ações da internet. A internet fez o ativismo alcançar a casa, o trabalho e até ambientes de lazer de cada pessoa que a utiliza. Há milhares de conteúdos políticas e apolíticos na web. Se a pessoa procurar, vai encontrar centenas de livros, filmes, músicas e todo o tipo de conteúdo que pode vir a ser usado para promover um ideal revolucionário. Por outro lado, na internet há de se tomar cuidado e filtrar informações, pois usuários menos críticos podem ser facilmente levados por supostas ideias ativistas que em primeira análise podem parecer interessantes, mas que quando bem estudadas e analisadas não respondem a questionamentos básicos. Fica a cargo do usuário saber usufruir do conteúdo midiático encontrado na internet com sabedoria e bom senso, pois nunca é demais ressaltar os perigos do uso da internet, dos grupos ativistas que agem em interesse próprio ou até mesmo do estado e corporações.

Esses que, em geral querem obter lucro e domínio sobre a população, muitas vezes utilizando-se e apoderando-se de nomes já consagrados no meio ativista, geralmente têm em suas lideranças pessoas desprovidas de caráter ético e moral, ou mesmo ligadas a grupos ideológicos contrários ao interesse popular. Suas condutas são um desserviço à sociedade e à ideia ativista como um todo, visto que frequentemente agem para proteger privilégios de elites, promovendo desinformação e confusão de modo a iludir pessoas ingênuas e se aproveitar delas. Na internet apenas podemos propagar ideias, e ideias em si, devem ser acompanhadas com ação, para que o objetivo se concretize. É no cotidiano, nas ações diárias como cidadãos, que podemos colocar em prática o conhecimento adquirido.    

Por fim, é importante deixar claro que a base para a construção desse texto (o hacker ativismo), como anteriormente abordado, é a união entre o “hacker“ e o “ativismo“, formando um método muito funcional para trazer resultados significativos na luta contra as opressões de modo geral. O hacker ativismo hoje está em alta, com diversas operações nos mais diversificados gêneros, algumas mais acessíveis, outras mais complexas. Isso acaba por requerer algo mais privado para garantir a segurança dos membros que estão fazendo a ação. O método utilizado pelos hackers ativistas varia muito, desde o já popular DDoS (negação de serviço) até invasões a servidores, sites e sistemas corporativos. Obviamente tudo feito com fundamento lógico, com o aspecto social e seguindo princípios éticos que precedem a ação.

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