A sociedade que te adoece!

Notícias 2 de Jan de 2023

As desigualdades sociais e os transtornos mentais.

Você chegou até esse texto através da Anonymous, e gostaríamos de lhe explicar qual nosso objetivo. Vivemos em um mundo perverso e corrupto, marcado por inúmeras injustiças e desigualdades sociais que nos massacram e oprimem diariamente. Por isso, buscamos uma forma de, se não eliminá-las, pelo menos minimizá-las. Lutamos não por vocês, mas com vocês. Lutamos juntos, porque independente do lado da tela em que estejamos, somos todos um e compreendemos que sozinhos somos fortes, mas juntos somos imbatíveis.

Temos muitos inimigos em comum nessas trincheiras: políticos corruptos, empresários poderosos, religiosos estelionatários que se valem da fé alheia para encher os próprios bolsos. Para esses, não daremos descanso. Acontece que todos nós, combatentes do cotidiano, também temos um outro inimigo, mais presente do que nunca, de caráter sorrateiro e que se cismar conosco não nos dará descanso:

A depressão.

Esse inimigo silencioso, cujas vítimas muitas vezes não encontram voz onde quer que seja, gritando desesperadas num silêncio interno sufocador, também será combatido por nós, juntos, da maneira que pudermos.

Periodicamente, postaremos aqui textos, pensamentos, escritos, cuja intenção não será outra senão tentar ajudar, não com receitas ou frases motivacionais, mas com tolerância e compreensão. Nossas postagens buscam trazer reflexão, e não têm o intuito de substituir ajuda especializada para o seu eventual caso, logicamente. É fundamental o acompanhamento de um profissional da saúde.

Paz a todos, cuidem-se!

O texto a seguir foi escrito com o intuito de tocar pessoas a respeito de como a saúde mental e a desigualdade social andam em conjunto. Acreditamos que esse tema precisa ser abordado e discutido.

Desigualdades sociais e transtornos mentais caminham juntos?

Provavelmente você já ouviu falar sobre depressão e transtorno de ansiedade, no entanto, você sabe o que é?

A Depressão é um tipo de transtorno do humor, marcado por profunda tristeza, desânimo, apatia e alterações do sono e na alimentação. Já os transtornos de ansiedade apresentam extrema preocupação desde em pequenas situações cotidianas até as mais complexas, podendo gerar crises de pânicos e fobias sociais.

É fundamental a compreensão de que não se trata daquela ansiedade e estresse normais do dia a dia, que vivenciamos em antecipação a um evento, e nem dos períodos de tristeza e luto, que nos são naturais. Quando falamos de transtorno, nos referimos a algo que interfere significativamente na vida da pessoa, chegando a incapacita-la em suas atividades cotidianas, nas relações sociais e no trabalho.

É muito comum que ambos os transtornos, depressão e o da ansiedade ocorram em conjunto. Esses transtornos, quando não tratados podem evoluir para quadros mais graves, como uso e abuso de álcool, outras drogas e também o suicídio.

Certo, e o que causa a depressão e o transtorno de ansiedade? Não há apenas uma única causa, e sim inúmeros fatores que podem contribuir para seu desenvolvimento, sendo eles: aspectos genéticos, biológicos, psicológicos e socioeconômicos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta a depressão como a principal causa de incapacidade mundial, a qual atinge todas as idades e classes socioeconômicas.
Quando pensamos em incapacidade podemos refletir a partir de duas perspectivas: na primeira, a incapacidade como consequência do transtorno e na segunda, como uma causa do adoecimento mental.

Como citado anteriormente, as pessoas acometidas por um transtorno mental, geralmente têm prejuízos em várias áreas de sua vida, tais como: desenvolver e manter relações sociais e emocionais. Por isso, muitas vezes, precisam se afastar de seus empregos. Já aquelas que estão desempregadas, dificilmente conseguem ser contratadas, lhe acarretando problemas econômicos e piorando seu quadro emocional.

Vivemos numa sociedade onde o valor de uma pessoa está condicionado à posição social, a sua capacidade de produção e de prover, pautada no discurso da meritocracia, discurso esse que responsabiliza unicamente o indivíduo por suas conquistas e fracassos. Nesse sentido, qual o impacto que a condição de incapacidade poderia ter sobre a saúde mental do indivíduo?

Podemos começar pensando nos idosos. De que forma nossos idosos vêm sendo tratados? Após dedicarem toda uma vida de trabalho e criação de filhos, quando aposentados, são tratados e vistos como inúteis, aumentando o sentimento de desvalia. Será por isso o alto índice de depressão e suicídio na terceira idade?

Martin-Baró pontua que quando surgem os problemas mentais, deve-se analisar seu contexto, visto serem reflexos do ambiente social, histórico e político.

A sociedade nos vende a ideia de que para sermos felizes precisamos alcançar determinados padrões: o casamento de conto de fadas, filhos, status social, adquirir bens, a casa perfeita, o carro do ano, o emprego de prestígio, as roupas e acessórios da moda, entre outros fatores. Então dedicamos nossa vida a tentar alcançar esses padrões. Buscamos relacionamentos e eventualmente, conseguimos. Buscamos dinheiro. Buscamos conforto e dar conforto aos que amamos. Buscamos tudo que o mundo pode nos dar e tudo que podemos dar ao mundo. E vamos trocando com ele, conseguindo, falhando e buscando novamente e assim por diante. E o que acontece quando não conseguimos? Podemos pensar no adoecimento mental.

A desigualdade social é o espelho que reflete a dura realidade de que a maior parte de nós não conseguirá alcançar esses padrões, o que por sua vez, nos torna diferentes dos demais e passamos a fazer parte das "minorias" e de seu processo de exclusão.

As desigualdades sociais estão relacionadas entre si e são definidas como a ausência de igualdade entre grupos de uma mesma sociedade. Ou seja, diferenças no padrão de vida, no acesso à serviços que garantem os deveres e direitos dos indivíduos determinados a partir do grupo a qual pertencem. Sempre analisados sob a ótica meritocrática, perpetuando ainda mais a individualização e exclusão do ser. As desigualdades mais comuns são: econômica, racial, gênero, orientação sexual, educacional, status social. Infelizmente, essas acarretam inúmeras consequências.

Na esfera econômica, dentre as mais importantes, podemos citar: o povoamento da periferia, a fome ou alimentação de baixa qualidade, evasão escolar, desemprego, padrão de consumo diferenciado, aumento da violência e da criminalidade. Além da falta de acesso a: saneamento básico, saúde, educação de qualidade e capacitação profissional, e por fim, o encarceramento em massa, principalmente da população negra e periférica.

Quando pensamos na desigualdade racial, de gênero e orientação sexual, percebemos que essas minorias, além das dificuldades econômicas, sofrem ainda mais com a discriminação, a violência e a segregação. Contribuindo assim, para seu adoecimento mental. Geralmente, pessoas expostas a situações de hostilidade, violência, rejeição e discriminação, podem desenvolver quadros de extrema ansiedade e episódios depressivos, evoluindo, posteriormente, para um transtorno. O Brasil é um dos países com maior índice de suicídios, homicídios e violência nesses grupos.

Outro grupo que vem se destacando é o de crianças e adolescentes. Cada vez mais apresentando depressão, síndrome do pânico, automutilação, uso de álcool e outras drogas, assim como, expressiva violência no ambiente escolar. As causas são multifatoriais, no entanto, podemos pensar o bullying, a negligência e/ou violência doméstica, o sistema ultrapassado e exclusivo de ensino, que não leva em consideração as particularidades de cada aluno no processo de aprendizagem, como grandes fatores causais.

Preocupações financeiras, fome, miséria, moradias precárias, falta de acesso ao lazer, violência doméstica, exposição à noticias sobre: violência e tragédias, situações de humilhação, longas e exaustivas jornadas de trabalho, excesso de informações, rejeição e exclusão social, são fatores que naturalmente geram estresse e ansiedade no indivíduo. Bem como, sentimentos de tristeza, raiva, indignação, irritabilidade, culpabilização, desvalia e insegurança. Consequentemente, baixam a autoestima, servindo como porta de entrada para o desenvolvimento de transtornos mentais.

Essas desigualdades, além de promover o adoecimento mental, também se reafirmam, através da dificuldade no acesso a tratamento daqueles que dependem estritamente do SUS, não lhe restando outra alternativa a não ser aguardar nas longas e demoradas filas de espera. Tendo em sua maioria, seu quadro clínico agravado.

Por tudo isso, é muito importante pensarmos nas desigualdades sociais, na exclusão das minorias e seus efeitos na saúde mental, para que possamos encontrar meios de: se não erradica-las, então minimiza-las. Você provavelmente, vivencia ou conhece alguém acometido pelo adoecimento mental e que sofre calado, pois fora jogado a própria sorte, estigmatizado e marginalizado por um sistema opressor, que ignora todas as problemáticas, todas as dificuldades, desigualdades e responsabiliza única e exclusivamente o indivíduo por seu bem-estar.

Quando perceber alguém que possa estar sofrendo, o acolha, mostre que ele não está sozinho, que embora você não tenha a solução e meios para ajuda-lo, você está ali. Muitas vezes, a pessoa não espera que você apresente soluções, ela só quer ser ouvida. Nós não escutamos mais, não nos importamos mais com o que outro tem a dizer. Estamos tão saturados de tanta informação e correria, que quando cumprimentamos alguém e perguntamos se está tudo bem é no automático, sem realmente ter interesse na resposta. Quantas vezes você fez isso? Quantas vezes perguntou a alguém se estava bem e aguardou a resposta? E quantos diálogos você tem que está completamente presente, escutando a pessoa e não pensando em quinhentas outras coisas?

E a juventude? Nossas crianças e adolescentes, como estamos nos relacionando com eles? Temos um canal aberto de comunicação e aproveitamos nossos momentos com eles, ou os deixamos com acesso livre à internet e redes sociais como forma de compensar nossa ausência?

O trabalho na era moderna deixou de ter hora e lugar, as relações de trabalho extrapolaram as esferas do espaço físico que ocupavam há uns anos, e deram lugar a uma rotina estressante e sem precedentes em prol de metas e lucro.

Com o advento da tecnologia, hoje não temos sequer um minuto de paz, trabalhamos de casa, da academia, do trânsito, fazemos de tudo a todo momento e por fim, não fazemos mais nada. Pense em quanto tempo você passa na frente de um aparelho e sequer tem tempo para comer ou se relacionar com as pessoas a sua volta?

Quantos de vocês passam mais tempo no WhatsApp do que com sua família ou amigos em um final de semana qualquer? Você consegue ficar sem olhar o telefone por uma hora, ou te incomoda ficar sem seu telefone por perto? Ansiedade, dependência e agonia são sentimentos que você tem ao tentar ficar sem olhar as notificações?

Humanos não são criados como máquinas, não somos artificiais, temos que comer, dormir, nos divertir, ter relações sociais, etc. No entanto, hoje, trabalhamos no horário de lazer ou durante férias, não descansamos a mente, vivemos para o trabalho e, consequentemente, o cansaço tomou conta do nosso ser, propiciando o adoecimento mental.

Se por um lado, temos os que sofrem por literalmente viver do trabalho, há também aqueles que sofrem pela falta de trabalho. Isso não se deve apenas a falta de qualificação profissional. Cada vez mais, empresas estão criando exigências absurdas em seus processos de seleção e recrutamento. Tais como: Idade, gênero, estado civil, dentre outros, fortalecendo o alto índice de desemprego no país.

Que sejamos mais sensíveis e empáticos à dor e limitações do próximo. E lembre-se, que ser empático não é se colocar no lugar do outro e pensar como gostaria de ser tratado ou agiria. Ser empático, é compreender que para aquela pessoa, naquela situação, é daquele jeito, e não como você imagina que deveria ser. Somos seres únicos, temos capacidades, limitações e perspectivas diferentes e está tudo bem ser assim.

Precisamos romper com os estigmas e rótulos excludentes que só nos separam. Mesmo porque, diante de tudo que temos acompanhado e vivenciado ultimamente, o "anormal" é não sofrer nenhum tipo de impacto na saúde emocional.

Esteja atento não só no próximo, mas principalmente em si mesmo. Se perceber alterações em seus comportamentos e rotinas, que episódios de ansiedade, estresse e a tristeza persistem além da normalidade, não se isole, converse com alguém de sua confiança e busque ajuda profissional.

E lembre-se: "Nada é, tudo está!" Hoje o dia pode estar extremamente difícil de suportar, mas não é definitivo, amanhã poderá estar mais fácil.

Relato de um membro da Equipe

A minha vida é um pouco difícil, tenho algumas barreiras desde criança. Minha mãe se separou do meu pai quando eu tinha 7 anos de idade, e fiquei com meu pai até o 16 anos, quando passei algumas dificuldades. Morava no interior e eu tinha que acordar pela madrugada para levar meu pai ao hospital. Eu tinha que sair às 2:00 da manhã e procurar um carro que pudesse nos levar.

Até então tudo bem, eu não sentia depressão, era muito feliz e sorridente. Tornei-me jovem e já não tinha mais o meu pai. Quando ele faleceu, eu tinha 16 anos.

Passei a morar sozinho na cidade grande, não quis ficar em casa de parentes, até porque nunca tive apoio deles. Eu era um jovem bem alegre, trabalhava a semana toda, e torcia para chegar sexta-feira e ir curtir com meus amigos.

Eu não sei dançar, mas fingia que estava dançando, e aquilo para mim era um momento inesquecível. Até que, um belo dia, estava trabalhando e fiquei impressionado com umas pessoas que estavam do outro lado da rua. Era como se elas estivessem planejando fazer alguma coisa contra mim, e na minha cabeça só vinha aquele medo, aquele sentimento de perseguição.

Deu o momento de eu sair do serviço, eu fechei a loja e cortei a volta em outra rua, e, por incrível que pareça, quando eu ia atravessar o sinal, tinha uma dessas pessoas vindo em minha direção como se estivesse correndo para me encontrar.

Eu entrei em total desespero. Atravessei o sinal o mais rápido possível, aproximei-me de uma delegacia de polícia e me escondi atrás de uma árvore. Fiquei observando o que ia acontecer. O cara parou, olhou para um lado, para o outro, pegou o telefone e entrou em um bar.

Eu nunca tinha visto a pessoa, nunca tive problema nenhum com ninguém, mas naquele momento em diante o medo tomou conta do meu coração e dos meus sentimentos. Foi aí que nasceu a grande depressão em minha vida, não consegui mais trabalhar, abandonei o serviço. O medo era tanto que todas as pessoas que olhavam para mim eu achava que estavam querendo me fazer mal.

Tive que sair da cidade grande e ir para o interior para ficar mais tranquilo, mas nada melhorou, o medo aumentava cada vez mais, tinham vozes na minha mente, pareciam que as pessoas estavam falando meu nome, e eu me escondia até mesmo atrás da geladeira.

Fiz uma consulta com um psiquiatra, ele disse que não tinha nada de anormal na minha mente, que eu simplesmente estava muito estressado e os nervos estavam muito agitados. Ele passou alguns remédios para que me acalmasse e dormisse melhor, e assim eu fiz durante muito tempo. Essa depressão durou dois anos. Emagreci, fiquei com 48kg e não conseguia comer. Até que fui me controlando e controlei o medo e a ansiedade.

Hoje eu posso dizer que estou melhor, mas nunca mais eu fui feliz como antes. Nunca mais consegui sair de casa para curtir uma dança à noite, a minha vida e a minha aparência mudaram.

Hoje eu ando normalmente na rua durante o dia, não tenho medo, mas não sou feliz! E sempre vem aquele sentimento de angústia, sinto-me abandonado, desprezado pela minha família, e isso machuca muito. Tem vezes que eu choro quase a noite toda sem motivo, no intuito colocar para fora o que está preso, o meu sentimento.

Ao contrário de muitas pessoas que tem depressão, eu nunca pensei em tirar minha vida, pois eu amo a vida. A única coisa que eu queria era poder ser feliz novamente e ter meus amigos como eu tinha, passear, curtir. A depressão não deixa você pensar só em alegria, vêm do nada pensamentos negativos que te deixa para baixo o sentimento muda no piscar de olhos.

Essa é a vida que eu levo sozinho, tento ser feliz e jamais eu vou descarregar os meus sentimentos de tristeza nas outras pessoas que não tem nada a ver, sempre vou procurar estar do lado delas para que eu possa sorrir e tentar ser feliz!

Este relato é de um membro da célula que sentiu-se confortável de compartilhar conosco um pouco de sua vivência e sua relação com a depressão. É importante salientar que a pessoa em questão está em tratamento. É de extrema importância a busca por ajuda, através de profissionais capacitados.

Serviços disponíveis gratuitamente:

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas, todos os dias. Disque 188 ou acesse o site https://www.cvv.org.br/chat/

Rede SUS - Você pode buscar informações na Unidade de Saúde do seu bairro.

Atendimentos psicológicos gratuitos oferecidos por Universidades - Você pode verificar se em seu Município há Universidades/Faculdades que atendem como Clínica Escola.

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