A luta pela diversidade

Notícias 19 de Nov de 2021 ES EN

Hoje vamos aprender alguns elementos que compõem os meios ativistas e de luta das minorias.

Empoderamento, Representatividade, Lugar de Fala, Silenciamento e Protagonismo

Empoderamento:  Empoderamento é um termo recente na nossa língua e nos meios ativistas.  Portanto, podem existir diferentes concepções sobre seu significado e utilidade. Comumente, empoderamento é usado com o sentido de socializar (compartilhar) poder entre outras pessoas. O empoderamento de um grupo significa a inserção desse grupo em espaços de discussão, debates, participação política, etc. Muitos grupos ativistas em nome de minorias políticas têm se mobilizado para empoderamento desses grupos. É importante diferenciar empoderamento (que é um sentido coletivo) de resgate de autoestima (que é uma questão individual). Empoderamento é referente às conquistas políticas de um grupo, ou no esforço por essas conquistas. A sensação de emancipação individual eventualmente é chamada também de empoderamento, mas não garante direitos ou proteção a indivíduos em particular dentro de um grupo. Por exemplo, o empoderamento de homossexuais garantiu, aos poucos, alguns direitos na legislação brasileira, como a união civil. Contudo, um indivíduo que se sente "empoderado" está sujeito aos mesmos riscos que qualquer outro homossexual. A ideia de empoderamento individual é uma concepção do liberalismo econômico, ou seja, da escalada social (financeira) em busca de proteção de si mesmo, a despeito do coletivo. Ela não faz sentido para uma perspectiva de sociedade horizontal.

Representatividade: Este também não é um conceito de uma só definição. De maneira geral, a representatividade está relacionada à participação de cada grupo em espaços deliberativos (ou seja, nos ambientes em que a sociedade é projetada), sejam eles institucionais, como as câmaras, ou informais, como as assembleias populares. A representatividade também pode ser pensada como ocupação de cargos de poder dentro de uma sociedade vertical, ou seja, funções importantes dentro do estado e/ou do setor privado. Alguns grupos também estendem esse conceito à representação visual desses grupos na mídia (filmes, livros, desenhos, anúncios, etc.), mas nesses casos a representatividade passa a ser questionável, pois também pode significar que centros de poder (mídia, governo, empresas) estão usando a imagem de grupos oprimidos para se promoverem. Para compreender melhor, fica uma pergunta: o que é de fato representativo, a mulher que aparece num comercial de cerveja ou uma mulher que ocupe um cargo de direção dentro da empresa que produz cerveja? O negro que aparece na campanha do governo contra o racismo ou um negro ocupando uma cadeira no Senado? É importante pensar também a representatividade como um fator coletivo, e não individual, senão se trata apenas de projeção de imagem pessoal.

Lugar de Fala: Esse é um conceito mais difícil de explicar, porque é um pouco subjetivo (depende da situação e das pessoas envolvidas). Além do conhecimento objetivo (construído a partir de pesquisas, do método científico) também precisamos levar em conta a experiência e vivência das pessoas quando vamos analisar questões sociais. Devemos sempre buscar somar essas formas de conhecimento. Quando um grupo oprimido se expressa na busca por direitos, é importante que pessoas pertencentes ao grupo que representa a opressão respeitem esse espaço. Frequentemente, homens tentam explicar para mulheres como deve funcionar o feminismo, pessoas brancas tentam definir para pessoas negras o que é racismo, ou pessoas cisgênero tentam dizer o que é ser transexual. Esse tipo de atitude é um desrespeito ao lugar de fala, ou seja, é uma fala que parte de alguém que não "sente na pele" as questões relacionadas àquela forma de opressão. Mas também precisamos destacar que nenhum debate sobre política e direitos pode ser resumido a vivência e experiência subjetiva. E isso também não significa que o oprimido está sempre certo. É preciso usar bom senso no uso do conhecimento objetivo para emancipar vítimas de opressão, e não para silenciá-las.

Silenciamento: Silenciamento, também chamado às vezes de "apagamento", é um processo pelo qual a voz de pessoas pertencentes a determinados grupos é ignorada ou sobreposta por grupos com mais privilégio. Muitas vezes o silenciamento é feito sem intenção. Ele ocorre quando se interrompe uma vítima de opressão no meio da fala e se conclui por ela, por exemplo.  Ou, ainda, após um relato de opressão, quando uma pessoa privilegiada conta um momento em que "também sofreu com isso", e então o foco da conversa vira essa outra pessoa. Também pode ser um silenciamento quando a fala de uma pessoa oprimida é ignorada dentro de um amplo contexto em que outras estão falando sobre o mesmo assunto. O silenciamento também é um pouco subjetivo, mas ocorre com frequência, e sempre no sentido de tirar o foco ou a atenção da fala de uma vítima de opressão para alguém privilegiado.

Protagonismo: "Protagonista" é o figurante principal de uma apresentação. Esse conceito foi ampliado para uma aplicação política, de modo que movimentos passam a ser "protagonizados" por aqueles que se pretende representar. Quem fala em nome do feminismo, portanto, são as mulheres. Quem fala pelo movimento negro, será a população negra. Quem fala pelo movimento LGBT são pessoas LGBT. E assim por diante. O protagonismo também envolve a ocupação de cargos ou funções de maior visibilidade, cargos burocráticos e cargos de gestão. Não faz sentido, por essa ótica, que em um movimento negro seus líderes, secretários e comunicadores sejam pessoas brancas. O protagonismo é importante como uma forma de combate ao processo de silenciamento e apagamento das causas políticas e minorias. Como em geral as populações oprimidas são excluídas dos cargos representativos nas diversas esferas da sociedade, os movimentos afirmam a participação política destas pessoas a partir de suas próprias estruturas de organização.

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