YANOMAMIS: A EXTINÇÃO DA ORIGEM

Operações 3 de Abr de 2023

Saudações cidadãos do Mundo. Saudações cidadãos do Brasil.

É desolador constatar o tamanho descaso do governo com os povos originários do Brasil. São muitas as frases preconceituosas ditas por Bolsonaro e seus seguidores, que demonstram a falta de respeito e reconhecimento que esses povos merecem. “Índio bom é índio morto”. “O Brasil tem um problema chamado índio”. “Não precisa de mais 1 hectare de reserva indígena”. Essas são algumas das declarações chocantes e xenófobas que demonstram a visão limitada de alguns indivíduos que ocupam e ocuparam cargos de poder.

Nós sabemos que os povos originários nunca tiveram um histórico fácil de convivência com a sociedade brasileira, principalmente com uma classe que busca o lucro acima de tudo e que sempre gritou "Deus acima de todos". Desde a invasão europeia, os nativos estão sendo subjugados, explorados e dizimados. As guerras, as doenças e as expulsões não foram encerradas, mesmo com leis que punissem invasores. Isso faz com que a população indígena continue diminuindo drasticamente dia após dia. São constantemente expulsos de suas terras ancestrais, que são invadidas por madeireiros, garimpeiros e grandes empresas que utilizam os recursos para seus próprios interesses.

Na Op. Caiuá a ganância e a hipocrisia da “Missão Evangélica Caiuá”, foram expostas. Mostramos e comprovamos que a Igreja Presbiteriana embolsava recursos do Governo Federal sem destiná-los para o seu fim: a saúde dos povos originários. Evangelizadores mais preocupados com o dízimo do que com o rebanho. Porém, há vários outros responsáveis, simpatizantes e cúmplices do genocídio Yanomami. Ninguém se estabeleceria e exploraria essas terras e seus povos com tamanha abertura, e por tanto tempo, sem a parceria de grandes empresas compradoras do ouro ilegalmente extraído e de políticos corruptos envolvidos e facilitadores dessas transações. É sobre isso; sobre esses crápulas, sobre as maldades e os malefícios causados.

Apesar do garimpo ilegal ser um problema antigo, segundo dados do MapBiomas, entre os anos de 2016 a 2020, houve um crescimento de 3.350%, atingindo o total de 3.272 hectares de área impactada em Dezembro de 2021. Ao menos 110 comunidades da TI Yanomami tiveram o habitat diretamente afetado pelo garimpo. Desmatamento, contaminação pelo despejo de mercúrio tanto do solo quanto dos cursos d’água que tiveram seus leitos alterados, destruídos e assoreados, como os rios Uraricoera, Parima, Mucajaí, Couto Magalhães, Apiaú, rio Novo, Catrimani e Lobo d’Almada, além de Igarapés como o Surucucu e o Igarapé Inajá.

“urihi wapopë”: os comedores de floresta

Urihi Wapopë, que na língua Yanomami significa pessoas que destroem o meio ambiente e tudo à sua volta; “comedores de floresta”, é como os garimpeiros são chamados pelos yanomamis. E é exatamente isso o que as mineradoras e madereiras fazem com essa parte do Brasil: devoram riquezas naturais e devastam as vidas que se põem no caminho de seus lucros.

Além do crime ambiental em si, a lavagem de dinheiro, o contrabando e a evasão de divisas são alguns dos crimes que surgem com o complexo esquema de garimpo nas terras Yanomamis. Esse sistema predador envolve além de garimpeiros, pilotos, operadores de rádio, políticos, prestadores e fornecedores de bens e serviços, atravessadores e muitos outros profissionais, formando uma extensa teia de benefeciados por essa exploração.

O relatório Yanomami Sob Ataque, publicado em abril de 2022 pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana (com assessoria técnica do Instituto Socioambiental), aponta que a expansão do garimpo ilegal foi beneficiado pelo aumento do preço do ouro; pela falta de transparência na cadeia produtiva; por falhas regulatórias que permitem fraudes; pela fragilização das políticas ambientais de proteção aos direitos dos povos indígenas e pelo desmonte das estruturas coordenadas de fiscalização e combate da atividade ilícita em terras indígenas. Até o bilionário estadunidense Elon Musk “contribuiu” com inovações técnicas para o garimpo ilegal, fornecendo a internet da Starlink, e, com isso, facilitando a estruturação do garimpo ilegal, garantindo comunicação e locomoção mais ágeis.

Fraude na origem do ouro

Uma brecha fiscal da qual os donos de grandes empresas se valem para continuarem enchendo seus bolsos às custas do sangue indígena e da destruição do meio ambiente é “transformarem” o ouro ilegal em algo legalizado apenas com a autodeclaração dos garimpeiros, dizendo que o ouro foi extraído de uma lavra garimpeira legal. O chamado “esquentamento” do ouro, é o meio encontrado para maquiar a origem de extração do minério. Este esquema consiste em levar o ouro extraído nas terras indígenas, ou seja, ilegal, até a cidade de uma lavra legalizada para vendê-lo como se tivesse sido extraído dessa lavra. Segundo investigação da Polícia Federal, essas empresas atuam em diversos estados, como Pará, Roraima e Amapá, além do Amazonas.

Existem processos abertos em todos estes estados e a suspeita é de que 3 empresas estejam usando balsas ilegais nos garimpos: Ourominas, FD´Gold e Carol DTVM. Em nossa análise, identificamos que essas empresas ou seus representantes aparecem em pelo menos 7 ações judiciais por crimes ambientais ou lavagem de dinheiro e todos os processos têm ligação com o garimpo ilegal na Amazônia, tendo um desses processos um pedido de indenização de R$ 10 bilhões ao Ministério Público Federal por destruição de florestas. Contudo, mesmo assim nenhum dos processos ainda foi julgado e as empresas continuam atuando certas da impunidade.

A Ourominas responde à vários processos na região amazônica e, em 2017, o Ministério Público Federal de Roraima acusou Aquiles Pereira Salerno Júnior, sócio da Ourominas, de ocultar provas que seriam essenciais para a investigação da PF, por lavar mais de 1 tonelada de ouro e por esquentar ouro ilegal no Pará. A FD´Gold e a Carol DTVM também respondem a processos judiciais no Pará, por danos ambientais e lavagem de ouro. O proprietário da Fd´Gold, Dirceu Santos Frederico Sobrinho, foi alvo da Polícia Federal na operação Aerogold. O “Rei do Ouro” (confiram abaixo uma parte dedicada especialmente a esse sujeito) é suspeito de compra de ouro em balsas clandestinas e de estar envolvido com lavagem de dinheiro do ouro ilegal.

De acordo com os dados, Jair Renan, filho 04 de Bolsonaro, tem vínculos com empresas mineradoras e exploradoras do garimpo. O banco BTG Pactual (que tem em seu quadro societário o preconceituoso e tosco ex-ministro da economia bolsonarista, Paulo Guedes) aparece em inúmeros documentos e transações, envolvendo a D´GOLD, empresa totalmente suja, envolvida com o garimpo ilegal na Amazônia. Brilha como ouro o fato do Governo de Bolsonaro e seus acoitados terem agido para facilitar amigos, familiares, colegas e ministros; todos envolvidos com essas empresas e o motivo sempre é o dinheiro!

A flexibilização de leis ambientais no Brasil foi um fator chave que permitiu que o garimpo ilegal em Terras Indígenas acontecesse sem que os culpados fossem responsabilizados. O desgoverno Bolsonaro deu aval a uma série de medidas que visam beneficiar o agronegócio e a mineração, em detrimento da proteção ambiental e dos direitos das comunidades indígenas. A política de enfraquecimento dos órgãos de fiscalização ambiental, como o Ibama e ICMBio, resultou em uma fiscalização ineficiente e deixou as Terras Indígenas vulneráveis à invasão dos garimpeiros. É assim que os donos dos garimpos podem comandar a barbaridade de seus escritórios em São Paulo e Boa Vista, já que contam com a proteção de seus aliados no Governo. É um absurdo que esse tipo de situação tenha se tornado cada vez mais comum em nosso país e que os responsáveis pelos crimes ambientais e violações de direitos humanos continuem impunes.

Os comedores de floresta:

Jair Bolsonaro

A favor de dar uma foiçada na FUNAI e contra a demarcação de terras indígenas, Bolsonaro ignorou dezenas de ofícios com denúncias enviadas pelas associações Yanomamis, boicotou as tentativas da ONU de examinar as terras indígenas e considerou a Alice Wairimu Nderitu, conselheira especial da ONU para a Prevenção do Genocídio, como inimiga da sua gestão.

“Não há um único genocídio que não tenha sido precedido por discursos de ódio” - Alice Wairimu Nderitu

Alice explica que a paralisação das demarcações pelo Ministério da Justiça e da FUNAI, a inação do Governo para proteger os povos indígenas durante a pandemia de COVID-19, os ataques do garimpo ilegal às comunidades Yanomami Ye’kwana, Munduruku, Guajajara e Awá colocaram o Brasil no radar da ONU e da CIDH (Comissão Internacional dos Direitos Humanos), além de colocar Jair Bolsonaro em análise perante o Tribunal Penal Internacional pelo crime de genocídio.

Sergio Moro

Em 2019, após decisão do Congresso Nacional, o Ministério da Agricultura foi trazido para debaixo do guarda-chuva do Ministério da Justiça. A parte que tratava das demarcações de terras indígenas foi para os braços dos anti-indígenas que comandavam a pasta da agricultura. A outra parte foi para Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. O ex-ministro da Justiça Sergio Moro, decidiu contra demarcações de terras e não recebeu nenhuma liderança dos povos originários. Nessa mesma época Bolsonaro, por meio da FUNAI, acionou a Polícia Federal e a ABIN contra as lideranças e entidades protetoras dos povos indígenas como a APIB.

Gen. Hamilton Mourão

No dia 11 de Fevereiro de 2020, Bolsonaro assinou um decreto para transferir o Conselho da Amazônia Legal do Ministério do Ambiente para as mãos do Gen. Mourão, excluindo o conselho de Governadores que eram incluídos no antigo decreto, mas que iriam ser consultados para auxiliar na formulação de políticas públicas. Mas a verdade é que ele nunca respeitou a cultura dos povos originários, incentivando o garimpo nas TI Yanomami, dizendo que: “É lógico que tem [índio que apoia o garimpo]. Você acha que o índio quer viver o resto da vida enfurnado no meio da floresta? Índio quer celular, índio quer caminhonete. Quer conforto, ar-condicionado.”

Damares Alves

Segundo a Isto É, em Julho de 2020 a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos pediu ao então presidente Jair Bolsonaro para vetar o envio de leitos de UTI, água potável, materiais de limpeza, de higiene pessoal, ventiladores pulmonares e materiais informativos sobre o COVID-19 aos yanomamis. Além de ser conhecida por sequestrar bebês indígenas, Damares conspirou, junto com Bolsonaro, o genocídio dos Yanomamis.

Ricardo Salles

Ministro do meio-ambiente no Governo Bolsonaro foi exonerado do cargo em Junho de 2021, ironicamente, por ser alvo de investigação em esquema de facilitação de exportação de madeira ilegal para os Estados Unidos e Europa. A operação “Akuanduba” foi deflagrada pela Polícia Federal e dez gestores do Ministério e do IBAMA foram afastados. Ao ser questionado sobre a crise humanitária dos Yanomamis, Salles se isentou da culpa dizendo que o problema era antigo, e depois replicou uma fake news, dizendo que os indígenas que estavam morrendo eram da Venezuela. Não é preciso muita inteligência para saber que pessoas que não estavam conseguindo nem se manter em pé devido ao grau de desnutrição, não conseguiriam entrar em uma área onde é necessário helicópteros ou jatinhos para chegar. E mesmo que fossem venezuelanos, se estão no território do Brasil, são responsabilidade brasileira.

Também colocou a culpa nos militares - e nisso ele tem razão, o que não o isenta da responsabilidade enquanto Ministro da pasta que ocupava na época.

Marcelo Xavier

Ex-Presidente da FUNAI e delegado da PF, bolsonarista. Indicado pela bancada ruralista para assumir o cargo, Xavier conseguiu agradar também os garimpeiros, por ser a favor da exploração e mineração em terras indígenas. Um zero à esquerda, negacionista, e o primeiro a trabalhar na FUNAI com ideias de políticas anti-indigenistas.

Suspeito de ser o responsável pelas mortes do repórter Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, parlamentares pediram a saída de Xavier da FUNAI, mas como a lei é feita para proteger a elite, ele só foi exonerado do cargo no final do mandato do Bolsonaro.

O Rei do Ouro

Dirceu Santos Frederico Sobrinho era visto frequentemente em Brasília, pois é próximo de Hamilton Mourão e dos outros aliados de Bolsonaro. Mesmo assim, não conseguiu driblar a Polícia Rodoviária da região de Itu, que apreendeu 77 quilos de ouro avaliados em R$ 23 milhões.

O Rei do Ouro também é presidente da Associação Nacional do Ouro (Anoro), e proprietário/sócio de diversas empresas relacionadas à minérios, entre elas está a F.D’Gold, empresa investigada por comprar metal extraído ilegalmente das terras indígenas Yanomami, Munduruku e Kayapó e depois refinar o metal com a Marsam Refinadora, onde sua filha Sarah Janaina Almeida Frederico Westphal é sócia.

Sarah Janaina Almeida Frederico Westphal e seu marido

A Marsam possuía o selo da RMI (Responsible Minerals Initiative), um programa que deveria rastrear se as matérias-primas minerais provém de fontes confiáveis e estão fora de zonas de conflitos. Desta maneira, o ouro ilegal entra na rede internacional e fica disponível para compra como se fosse legalizado, atraindo grandes empresas como a Google, Microsoft, Apple e Amazon, que utilizam ouro em alguns aparelhos eletrônicos como celular, computador e câmeras. A Marsam perdeu o selo da RMI após Dirceu ter sido preso preventivamente na operação Aerogold da PF, onde ele já era alvo, como citamos anteriormente.

Impactos sobre a vida das comunidades indígenas

Mas a crueldade pode verdadeiramente ser percebida quando olhamos para a fauna e principalmente para os seres humanos afetados. A TI Yanomami vivia basicamente da pesca e da caça, contudo, o desmatamento, o envenenamento do ambiente e o barulho dos maquinários afugentaram os animais. Com a contaminação do mercúrio nas águas e no solo, os que restaram adoeceram, assim como os povos originários. Morreram contaminados, de fome, malária, COVID-19, e de doenças que seriam curáveis, se os garimpeiros não tivessem expulsado os médicos dos postos de saúde. Esses territórios e seus habitantes sequer teriam sofrido tudo isso se o contato não tivesse acontecido.

Com postos de saúde fechados e sem respostas aos pedidos de socorro encaminhados ao SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e ao DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), em Janeiro de 2021 foram registrados 1.255 casos, com a morte e desaparecimento de corpos das crianças indígenas. O descaso do desgoverno Bolsonaro e sua laia diante do COVID-19 também contribuiu e muito para o aumento dessas mortes.

A BBC News divulgou o crescimento das mortes Yanomamis em 331% por desnutrição, perdendo apenas para para as pneumonias.

Mas não foram só doenças, desnutrição e contaminação que culminaram nessas mortes. O aumento de homicídios Yanomamis devido à disputa de terras entre indígenas e garimpeiros também aumentou e, com ele, o número de suicídios, demonstrando um grave problema social, econômico e sociológico.

Nunca ouve tanta omissão por parte de um Governo, talvez porque o plano fosse a extinção dos povos originários e o livre avanço do garimpo.

Se consideramos a disseminação de doenças infectocontagiosas (em especial a malária), a contaminação pelo metilmercúrio, subproduto do garimpo, e a sobrecarga no sistema de saúde local, o número de comunidades afetadas diretamente seria de 273, abrangendo mais de 16.000 pessoas, ou 56% da população Yanomami.

Além de envenenarem e adoecerem as comunidades e terras indígenas, os garimpeiros aliciaram jovens indígenas, desenvolveram o tráfico sexual de meninas e mulheres para prostituição. Houve estupros e escravização sexual de crianças e mulheres jovens em troca de comida, de medicamentos e até por, simplesmente, alguns poucos goles de água limpa. Mulheres indígenas precisam sujeitar seus corpos aos abusos; se submetem por migalhas de sobrevivência. E, além dessas violências, médicos e outros funcionários de postos UBSI (Unidade Básica de Saúde Indígena) ainda foram expulsos do local, sob ameaça de morte. Esse foi um plano de extermínio em massa. O nome disso é genocídio!

"As políticas públicas não chegam para esses jovens. E eles são jovens, querem aventuras. Com isso, o garimpo assediou enormemente essa juventude, com acesso a armas, que eles apreciam muito, e outros objetos” - disse a antropóloga Maria Auxiliadora Lima de Carvalho.

Segundo relatos de alguns indígenas, quando algum jovem da comunidade chega bêbado, eles já sabem que esse jovem foi aliciado pelos garimpeiros em troca de armas e objetos como celular, seja para prestar serviços ao garimpo ou para atrair meninas e mulheres em direção ao estupro. Trinta meninas engravidaram e três meninas morreram por terem sido infectadas pelos garimpeiros com IST’s (Infecções Sexualmente Transmissíveis).

As  frentes do plano de extermínio:

Desmonte da FUNAI.

“Bolsonaro prega que índio não precisa de terra, que não trabalha, que é como animal num zoológico. Quem já tinha maldade para fazer isso está agora recebendo apoio.” - Adriano Karipuna

Os ataques às comunidades indígenas aumentaram depois que Bolsonaro deixou claro as suas intenções de sucatear a FUNAI e liberar o garimpo ilegal nas terras indígenas.

Além da divisão da FUNAI entre o Ministério da Agricultura, e o ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, as demarcações de terras e a articulação da PF passam por 3 órgãos do Executivo. Se antes, quando os indígenas tinham contato direto com a PF, já era difícil conter a fúria sedenta dos garimpeiros, com esse trâmite entre 3 órgãos para depois se tomar uma ação, a defesa das terras torna-se praticamente impossível.

Desmonte da proteção indígena.

Em 2020, o governo encaminhou o PL 191/2020 ao Congresso Nacional. Esse projeto de lei abre espaço para lavras de recursos minerais e hidrocarbonetos nas terras indígenas. Aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia elétrica em terras indígenas e institui a indenização pela restrição do usufruto de terras indígenas além de colocar a FUNAI como mediadora entre as comunidades indígenas e investidores.

Como sempre, as leis são pensadas para beneficiar poderosos e, nesse caso, não consideraram que algumas aldeias são isoladas e um contato forçado com essas comunidades poderia resultar na dizimação delas por conflitos diretos ou propagação de doenças.

A violência

Em junho de 2022 Bruno Pereira e Dom Phillips foram assassinados a bala por armas de caça e seus corpos foram queimados e enterrados no Vale do Javari, 3 dias depois de partirem de São Rafael em uma viajem de barco com direção a Atalaia do Norte. Essa região é conhecida por ter conflitos por tráfico de drogas, roubo de madeira e garimpo.

Dom Phillips era jornalista, residia no Brasil há mais de 15 anos e era a favor das causas indígenas e ambientais da Amazônia. Bruno liderou uma operação que destruiu 60 balsas de garimpo ilegal e denunciou a atuação de caça e pesca ilegal na região do Vale do Javari. Também denunciou um esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico feito por meio da venda de peixes e tracajás (espécie de tartaruga). O MPF e a Polícia Federal já investigavam esse caso, mas essa ação de Bruno causou a ira de muita gente poderosa, inclusive a do narcotraficante Rubens Villar Coelho, conhecido como “Colômbia”, que ordenou que Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, colocasse a cabeça de Bruno a leilão.

No relatório Yanomami Sob Ataque, também consta que em 2021 foram registrados 33 casos de abuso de poder, mais do que o dobro no ano anterior. Na maioria dos casos, os abusos foram cometidos por agentes públicos que deveriam cumprir a legislação protegendo a população indígena, conforme suas atribuições emquanto servidores da FUNAI e das polícias (Federal, Militar e Civil).

As associações Ayrca e Kumirayoma denunciaram, ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Exército, o comandante do 5º Pelotão Especial de Fronteira por agir de forma autoritária contra os indígenas. O Tenente Castilho foi denunciado por entrar nas aldeias sem o consentimento das lideranças, escoltado por homens armados e, dessa forma, submetendo a comunidade à revistas truculentas sob ameaça de tiros contra seus membros.

Além da opressão sofrida nas mãos dos agentes públicos, foram registradas diversas outras formas de violência como ameaças de morte, estupros e assassinatos praticados por garimpeiros.

Foram registrados 176 homicídios, dos quais 29 eram mulheres, 146 eram homens e 1 delas não teve o gênero identificado.

Na maioria dos casos, as vítimas tinham entre 20 a 59 anos, porém, em 39 deles as vítimas eram menores e jovens de até 19 anos.

Os povos originários também foram alvos em manifestações pacíficas em Brasília.

Por se mobilizarem diante da sede da FUNAI, em defesa de seus direitos constitucionais e contra os projetos de extermínio dos povos originários, foram atacados com bombas e spray de pimenta por policiais que bloqueavam a entrada do prédio.

Em outro caso - no Acampamento Levante Pela Terra - onde protestavam contra o projeto de lei PL490/2007, os indígenas foram brutalmente atacados pelas Polícias Militar e Legislativa com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo, bombas de som e de luz, diante do Anexo 2 da Câmara dos Deputados. Vários indígenas ficaram feridos e ao menos dois chegaram a ser internados devido a esses ferimentos.

A PL490/2007 de autoria do Homero Alvares Pereira do PSD (Mato Grosso), inviabiliza demarcações de terras indígenas, favorece a exploração e foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJC) da Câmara, dias depois, sem nenhum diálogo ou consulta às lideranças dos povos. Veja análise da Assessoria Jurídica do CIMI, que considerou essa proposta inconstitucional.

Curiosamente, o estado de Mato Grosso é a região onde há inúmeros casos de trabalho escravo de indígenas, incluindo adolescentes.

Graças à Anhangá, um poderoso espírito da floresta, temos a sorte de Homero não estar mais em exercício: morreu de cancêr em 20/10/2013, e por isso não está desgraçando a vida alheia até hoje.

O agravamento da crise econômica e do desemprego no país produziu uma massa de mão de obra barata a ser explorada.

A política do governo Bolsonaro deu incentivo e apoio à atividade garimpeira, apesar do seu caráter ilegal. Ele produziu, intencionalmente, a expectativa de regularização dessa prática. Estamos falando de escolhas políticas ambiciosas, aplicadas por esse fascista genocida e seus alidados, com ajuda de grandes empresários.

Urihi A: a Terra-Floresta Yanomami

“Os brancos pensam que a floresta foi posta sobre o solo sem qualquer razão de ser, como se estivesse morta. Isso não é verdade. Ela só é silenciosa porque os xapirepê (espíritos auxiliares dos xamãs) detêm os entes maléficos e a raiva dos seres da tempestade. Se a floresta fosse morta, as árvores não teriam folhas brilhantes.” - Davi Kopenawa

As nossas terras, ao contrário do que muitos ambiciosos pensam, não estão ali somente esperando para serem exploradas sem fim. Biomas são organismos vivos que fazem parte de nós, assim como cada um de nós apenas faz parte deste. Não há privilegiados na natureza. A verdadeira riqueza que possuímos não são os bens materiais e sim a terra, que sustenta tudo e todos. E é através dela que extraímos a cura, colhemos os nossos alimentos, conseguimos abrigo, temos oxigênio, água e podemos acender uma fogueira no inverno.

Aos povos originários devemos todo o nosso respeito por resistirem na proteção de algo que nós, “homens da cidade”, não conseguimos perceber e sentir o valor. O Estado deve reparação histórica por permitir que invadam suas terras e massacrem os povos. Quinhentos anos se passaram e nada mudou: os brancos, os invasores civilizados, continuam ambiciosos com seu plano de extermínio, exploração e colonização. Massacre de muitos pelo que alguns entendem como progresso: o lucro de poucos. Com suas missões, continuam empurrando goela abaixo dos oprimidos um Deus, que não é branco, com o intuíto de extermínio da cultura indigenista.

O projeto invasor zomba dos saberes ancestrais, mina o respeito pelas tradições, ridiculariza a importância de figuras de lideranças das comunidades, e assim, doutrinam mentes e apagam histórias para que os mutilados se submetam à exploração em nome da prometida e pervertida salvação. Tudo em nome do amor.

Amor ao aproveitamento dos recursos públicos em benefício pessoal dos aproveitadores. Não foram só os garimpeiros que sacrificaram tantos indígenas: as igrejas evangelizadoras, os governos terrivelmente cristãos e a burguesia corrompida e gananciosa têm total responsabilidade. Um conivente com o outro, em busca de ouro e dinheiro amaldiçoados, para construirem seus impérios às custas do sangue, das lágrimas e do suor da dor indígena.

É urgente que todos assumam suas responsabilidades com relação à proteção dos povos indígenas e de suas terras. É preciso que haja uma verdadeira fiscalização de garimpos ilegais, que sejam criadas políticas de proteção e reconhecimento das terras indígenas e que a população seja consultada em todas as decisões que afetem suas vidas. A população indígena não pode ser mais uma vez deixada de lado pelo Estado e por nós que vivemos nas cidades. É preciso dar voz a esses povos, ouvi-los e respeitá-los. A história e culturas deles são tão valiosas quanto qualquer outra, e merecem ser preservadas e protegidas. Basta de descaso e violência contra a população indígena brasileira.

A todos que estão facilitando o massacre dos povos originários,

nós estamos de olho,

nós não perdoamos,

nós não esquecemos,

nós somos Anonymous,

nós somos EterSec

nos aguarde!

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